Anos depois de voltar da Índia e de ler (melhor: de devorar) "O Deus das Pequenas Coisas", reencontrei o livro, cheirando a pó e a incenso (cheiros tipicamente indianos, por sinal), na bagunça da mesa do escritório do meu marido.
Olhei para ele e me lembrei que foi o melhor livro da minha vida, e que ainda é.
Resgatei-o da bagunça, limpei a poeira. E, ao abri-lo, fechei os olhos, respirei fundo e deixei o cheiro de Nag Champa me transportar para aquele país distante, tão incrível, sedutor, único.
Estou devorando "O Deus", mais uma vez. E, a cada trecho, me pergunto "como pode Arundhati Roy escrever tão bem?! Meu Deus!"
Gosto muito desse trecho. A irônia é impagável.
"Ammu teve uma cerimonia de casamento completa, estilo Calcutá. Depois, relembrando aquele dia, Ammu deu-se conta de que o brilho ligeiramente febril nos olhos do noivo não tinha sido de amor, nem de excitação pela perspectiva de felicidade carnal, mas sim devido a cerca de oito grandes doses de uísque. Puro. Sem gelo".
O livro cheirando a incenso, lançado em 1997, ganhou o Booker Prize.
Dessa vez, fui atrás de mais informações sobre Arundhati Roy, uma indiana bem-educada nascida em Kerala. E, descobri uma entrevista dela ao Salon.com, onde ela diz que nunca reescreveu ou revisou os seus textos. Eu acredito. São tão sinceros, passionais, viscerais, que reescrevê-los mais de uma vez faria com que perdessem a força.
O livro fala da paixão, e de tudo que ela acarreta, entre um homem e uma mulher de diferentes castas. De um carpinteiro intocável e da filha de um comerciante. Mas, o mais forte é a história de amor e de perda de uma mãe e de um casal de gêmeos crianças, Estha e Rahel. Tudo gira em torno da morte da pequena Sophie Mol. É uma tragédia, em meio à beleza (da paisagem, da inocência infantil...)
É uma pena, Arundhati Roy, que descobri ser uma das principais ativistas anti-globalização do mundo, não ter escrito mais romances. Mas, não tem problema. Ela já deu o seu recado.
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