Monday, December 27, 2010

Necessidade feminina

Hoje, li uma reportagem no The New York Times que fala sobre as mulheres paquistanesas. É daquelas que deixa a gente, ocidentais, com falta de ar. Jovens estão deixando a burca no armário, brigando com a família e sofrendo ameaças de morte por resolver trabalhar fora. Mas, a revolução, em um dos países onde o sexo feminino nada pode, não é motivada por causa de uma retardatária onda feminista, ou por desejos de liberdade. Quem dera, fosse. É por necessidade. O Paquistão vem sendo arrasado por altos índices de inflação. E, o salário dos homens, até então os únicos provedores, não segura o sustento das famílias, onde as mulheres ficam em casa cuidando do lar, dos filhos e se esforçando para agradar os maridos, pais e irmãos. São moças como Rabia Sultana, de 21 anos, que desde maio, quando arrumou um emprego no balcão do Mc Donalds, é mal tratada por sua família. Ela gasta seu salário de 100 dólares (!?) nas despesas da casa e no estudo das irmãs mais novas. Ainda assim, ninguém fala com ela na hora do jantar. O irmão mais velho chegou a fazer a típica cena. Deu-lhe um tapa na cara, confiscou-lhe o uniforme de trabalho e disse que a mataria se ela colocasse os pés para fora de casa. Mas, mais tarde, enguliu seco. O confisco de uniformes por imãos raivosos é tão comum que redes de lanchonetes, ao contratar paquistanesas, dão a elas três trocas de roupa. Os homens paquistaneses, pela primeira vez na história recente de seu país, estão tendo de rever seus conceitos por pura sobrevivência. E, agora, mais do que nunca, dependem das mulheres, também para ter o que comer. Eu torço para Rabia, em breve, ter condições (financeiras e morais) de ter a sua própria casa, onde seu marido e seus filhos a respeitem pela mulher que ela é. E, conversem com ela na hora do jantar. Afinal, isso também é uma necessidade.

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